sábado, 3 de janeiro de 2009

Biografia de Manuel Bandeira, Homenageado da FLIP 2009

Manuel Bandeira é o homenageado da VII edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que acontecerá entre o dia 1º e 5 de julho de 2009. Flávio Moura, diretor de programação da FLIP, diz que Bandeira é uma referência e destaque na tradição literária brasileira, que sua obra poética precisa ser revalorizada e divulgada, pois boa parte da vasta produção em prosa de Manuel Bandeira permanece a sombra.

Biografia - Manuel Bandeira
(1886/1968)


Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, nasceu em Recife, 19 de abril de 1886.
Depois de morar no Rio, em Santos e em São Paulo, a família regressou ao Recife, onde permaneceu por mais algum tempo. A nova mudança para o Rio levou o menino a ser matriculado no colégio Pedro II. Com 17 anos, Manuel Bandeira foi para São Paulo, a fim de ingressar na Escola Politécnica, mas já no ano seguinte (1904) ficou tuberculoso. Abandonou os estudos, passando temporadas em várias outras cidades, de clima mais propício ao seu estado de saúde. Em 1913 partiu para a Suíça em busca de tratamento. Regressou no ano seguinte, pois estava começando a Primeira Guerra Mundial. Foi poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor.

Em 1917 publicou seu primeiro livro, A Cinza das Horas, que traz poemas parnasiano-simbolistas. Fez parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira. Seu poema 'Os Sapos' foi lido na abertura da Semana de Arte Moderna de 1922, por Ronald de Carvalho, provocou reações radicais na segunda noite do acontecimento. Mário de Andrade chamava-o de "O São João Batista do Modernismo".

Bandeira faz parte da elite literária pernambucana juntamente como os escritores, João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freire e José Condé.
Bandeira foi um dos poetas nacionais mais admirados e que provoca inspiração em novos escritores e até mesmo em compositores devido seu estilo sóbrio de escrever. Sua obra Aborda temáticas cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estréia (e de curtíssima tiragem) estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontramos composições como o rondó e trovas.
As origens de Manuel Bandeira estão na poesia parnasiana, onde uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver.

Bandeira sofria de tuberculose, doença que lhe deixava angustiado com o risco da morte, essa angustia é uma marca em sua obra. Um drama que conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época.

Davi Arrigucci Jr., o melhor crítico da obra de Manuel Bandeira, esclarece: "A poesia de Bandeira tem início no momento em que sua vida, mal saída da adolescência, se quebra pela manifestação da tuberculose, doença então fatal. O rapaz só fazia versos por divertimento ou brincadeira, de repente, diante do ócio obrigatório, do sentimento de vazio e tédio, começa a faze-los por necessidade, por fatalidade; em resposta à circunstância terrível e inevitável". Na verdade, a perspectiva da morte foi uma constante em sua poesia e motivou um de seus conhecidos poemas:

Consoada

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.


-A cinza das horas, 1917 - primeiro livro do poeta, traz poemas parnasiano-simbolistas.

-Carnaval, 1919 - marca o início da libertação das formas fixas e a opção pela liberdade formal, que se tornaria uma das marcas registradas de sua poesia. Bandeira é considerado o mais hábil poeta brasileiro no manejo do verso livre. Nesse livro está o poema "Os Sapos", verdadeiro manifesto de um poeta inconformado e rebelde diante das limitações da estética parnasiana. A partir de Carnaval, toda a obra poética de Bandeira constrói-se em torno de uma progressiva liberdade de expressão. O ritmo dissoluto, cujo título já indica tratar-se de um livro integrado ao espírito modernista, mostra a opção definitiva de Bandeira pelo corriqueiro, pelo cotidiano, como matéria poética.

-Libertinagem, 1930 - Libertinagem apresenta alguns poemas fundamentais para se entender a poesia de Bandeira: "Vou-me embora pra Pasárgada", "Poética", "Evocação do Recife", entre eles. No mesmo livro começam a aparecer assuntos que se tornariam freqüentes. Entre eles, o amor, a lembrança de vultos familiares e da infância, o folclore.

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água.

Pra me contar histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

Lá sou amigo do rei

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

-Estrela da tarde, 1960 - "Estrela da Tarde" atesta a inquietação do poeta, sempre procurando novos recursos formais para expressar sua visão de mundo:

A onda

a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda


São características da obra de Bandeira: emprego do verso livre, mas não com exclusividade. Mesmo em suas últimas obras Bandeira recorre a formas fixas, entre elas o soneto; até escreveu uma cantiga medieval: uma demonstração a mais de sua liberdade de expressão... É bom lembrar ainda que verso livre não é sinônimo de ausência de ritmo; aproveitamento da fala coloquial; poesia simples, direta; aproveitamento de fatos do cotidiano; sentimento de humildade diante dos fatos; humor; e visão de amor quase sempre tangenciando o erotismo, o amor físico.

Ele próprio afirmou: "... a poesia está em tudo - tanto nos amores quanto nos chinelos, tanto nas coisas lógicas como nas disparatadas". Bandeira não se ocupou de temas de natureza social ou de reflexão filosófica. Sua visão de mundo decorria da descoberta da poesia nos fatos corriqueiros, do dia-a-dia, ou nas experiências de vida do poeta.

Quando se relacionam os poemas de Bandeira à sua biografia, é necessário fugir do simplismo de achar que cada poema surgiu de um dado biográfico. Primeiro, porque essa relação só pode ser feita se ancorada em informações fornecidas pelo poeta - como é o caso de "Pneumotórax" ou mesmo de "Vou-me embora pra Pasárgada". Segundo, porque a partir do cotidiano o poeta recria poeticamente o mundo, dando à sua obra dimensão universal, ou seja, o cotidiano adquire significação simbólica e passa a ser aplicável a qualquer homem.


Obras De Manuel Bandeira:


POESIA: Poesias, reunindo A cinza das horas, Carnaval, O ritmo dissoluto (1924), Libertinagem (1930), Estrela da manhã (1936), Poesias escolhidas (1937), Poesias completas, reunindo as obras anteriores e mais Lira dos cinqüenta anos (1940), Poesias completas, 4a edição, acrescida de Belo belo (1948), Poesias completas, 6a edição, acrescida de Opus 10 (1954), Poemas traduzidos (1945), Mafuá do malungo, versos de circunstância (1948), Obras poéticas (1956), 50 Poemas escolhidos pelo autor (1955), Alumbramentos (1960), Estrela da tarde (1960).

PROSA: Crônicas da província do Brasil (1936), Guia de Ouro Preto (1938), Noções de história das literaturas (1940), Autoria das Cartas chilenas, separata da Revista do Brasil (1940), Apresentação da poesia brasileira (1946), Literatura hispano-americana (1949), Gonçalves Dias, biografia (1952), Itinerário de Pasárgada (1954), De poetas e de poesia (1954), A flauta de papel (1957), Prosa, reunindo obras anteriores e mais Ensaios literários, Crítica de Artes e Epistolário (1958), Andorinha, andorinha, crônicas (1966), Os reis vagabundos e mais 50 crônicas (1966), Colóquio unilateralmente sentimental, crônica (1968).

ANTOLOGIAS: Antologia dos poetas brasileiros da fase romântica (1937), Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana (1938), Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos (1946). Organizou os Sonetos completos e Poemas escolhidos de Antero de Quental, as Obras poéticas de Gonçalves Dias (1944), as Rimas de José Albano (1948) e, de Mário de Andrade, Cartas a Manuel Bandeira (1958).

O poeta de amplos recursos foi também um exímio tradutor de poesia. Além da bela coletânea dos seus Poemas traduzidos (1945), construiu textos notáveis ao passar para o português obras de Schiller (Maria Stuart, 1955), Shakespeare (Macbeth, 1961) e Brecht (O círculo de giz caucasiano, 1963), entre muitos outros autores. Manuel Bandeira morreu no Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1968. Suas poesias completas haviam sido reunidas, pouco antes, em Estrela da vida inteira (1966).

Além de poeta, Manuel Bandeira exerceu também outras atividades: jornalista, redator de crônicas, tradutor, integrante da Academia Brasileira de Letras e também professor de História da Literatura no Colégio Pedro II e de Literatura Hispano-Americana na faculdade do Brasil, Rio de Janeiro.

Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde foi o terceiro ocupante da cadeira 24 cujo patrono é Júlio Ribeiro. Sua eleição ocorreu em 29 de agosto de 1940, sucedendo Luís Guimarães Filho, e foi recebido pelo acadêmico Ribeiro Couto em 30 de novembro de 1940.

Manuel Bandeira foi um dos nomes mais importantes do modernismo no Brasil, considerado um clássico da literatura brasileira no século XX, um dos maiores poetas do modernismo. Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968 com hemorragia gástrica aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, e foi sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.


Manuel Bandeira (3º da esquerda para direita em pé), Alceu Amoroso Lima (5ª posição) e Dom Hélder Câmara (7ª) e sentados (da esquerda para direita), Lourenço Filho, Roquette-Pinto e Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, 1936

Fonte:
Cultura Brasil por Lázaro Curvêlo Chaves.
Wikipédia/manuel bandeira
Sua Pesquisa
Geocities
Fundação Casa de Rui Barbosa/Arquivo Manuel Bandeira

Um comentário:

Roberto Garighan disse...

Belo blog, gostei que participa do meu.

Bjs

Roberto Garighan

Blog do garighan e
robertogarighan.zip.net