quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Joãosinho Trinta - A Trajetória e Projetos do Mestre do Carnaval Brasileiro

Joãozinho Trinta é o apelido de João Clemente Jorge Trinta, maranhense que nasceu na cidade de São Luís, 23 de novembro de 1933. Artista plástico e carnavalesco, um grande ícone do carnaval brasileiro que veio para o Rio de Janeiro ainda jovem e estudou dança clássica no Teatro Municipal RJ, montou óperas e balés: "O Guarani" de Carlos Gomes e "Aida", de Giuseppe Verdi.
Sua notoriedade foi conquistada como carnavalesco: ousado, polêmico e criativo. A trajetória de sucesso começou quando ingressou na Escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, em 1961, como assistente do carnavalesco Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, juntos conquistaram o primeiro lugar do segundo grupo com o samba enredo "Eneida: Amor e Fantasia.
Os anos seguintes confirmam que Joãosinho Trinta nasceu predestinado a profissão de carnavalesco. A trajetória de vitórias, polêmicas faz de Joãozinho Trinta, um gênio ousado, um ícone do carnaval brasileiro.
Em 1973, Joãosinho passou, juntamente com a artista plástica Maria Augusta, a ser o carnavalesco do Salgueiro.
Com o Samba enredo, "O Rei de França na Ilha da Assombração" conquistou o primeiro lugar do grupo 1, em 1974. Em 1975 a façanha se repetiu com o samba enredo "O Segredo das Minas do Rei Salomão", foi o primeiro lugar do grupo 1.
Em 1976 após se afastar da Escola Acadêmicos do Salgueiro, Joãosinho Trinta tranferiu-se para a Beija-flor de Nilopólis onde criou e colocou em execução um belíssimo programa social de inclusão da população carente, e se mostrou um líder competente e criativo.
Gerou muitas polêmicas ao misturar o sagrado em uma festa culturalmente profana e com isso um grande desafeto com a Igreja Católica. Foi alvo também de duras críticas por levar para avenida fantasias muito luxosas, a essas críticas respondeu com a frase histórica: "Quem gosta de miséria é intelectual".
Nos 17 anos que trabalhou como carnavalesco da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, Joãosinho Trinta conquistou os seguintes títulos:

1976- Sonhar com Rei dá Leão - 1º lugar
1977- Vovô e o Rei da Saturnália na Corte Egípcia - 1º lugar
1978- A criação do Mundo na tradição Nagô - 1º lugar
1979- P Paraíso da Loucura - 2º lugar
1980- O Sol da meia noite, uma viagem ao país das maravilhas - 1º lugar
1981- A oitava das sete maravilhas do mundo - 2º lugar
1982- O olho azul da serpente - 2º lugar
1983- A grande constelação das estrelas negras - 1º lugar
1984- O gigante em berço esplendido - 3º lugar
1985- A lapa de adão e eva - 2º lugar
1986- O mundo é uma bola - 2º lugar
1987- As mágicas luzes da Ribalta - 4º lugar
1988- Sou Negro do Egito, à liberdade - 3] lugar
1989- Ratos e urubus larguem a minha fantasia - 2º lugar
1990- Todo mundo nasceu nú - 2º lugar
1991- Alice no país das maravilhas - 4º lugar
1992- Há um ponto de luz na imensidão - 7º lugar - ùltimo desfile feito pelo Carnavalesco Joãosinho Trinta, pela Escola Beija-Flor de Nilópolis.

Outras conquistas depois que saiu da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis

Em 1993, Joãosinho Trinta não participa do carnaval.
Em 1994, o carnavalesco volta ao cenário do carnaval carioca, dessa vez como carnavalesco da Escola de Samba Unidos da Viradouro. Com o samba enredo "Teresa Benguela - Uma Rainha Negra no Pantanal", conquistou o 3º lugar do grupo especial.
Em 1995, pela Viradouro, conquista o 8º lugar do grupo especial , com o enredo "O Rei e os Três Espantos de Debret.
1996, com o enredo "Aquarela do Brasil, ano 2000", amargou o 13º lugar do grupo especial.
1997, conquistou o primeiro lugar do grupo especial, com o enredo "Trevas! Luz! A Explosão do Universo". Joãosinho Trinta sofre um derrame, que paralisou um lado do seu corpo, mas mesmo assim continuou seu trabalho.
1998, ainda na Viradouro, conquistou o 5º lugar, com o enredo "Orfeu o Negro do Carnaval".
1999, o enredo "Anita Garibaldi, Heroína das Sete Magias", ganhou o 3º lugar do grupo especial.
No ano de 2000, Joãosinho Trinta fez seu último carnaval como carnavalesco da Viradouro. com o tema ""Brasil, visões de Paraíso e Infernos", conquistou o 3º lugar do grupo especial.

Em 2001 joãosinho Trinta entra para a escola Acadêmicos do Grande Rio, e com o tema "Gentileza, o Profeta Sai do Fogo", conquista o 6º lugar do grupo especial.
2002, o tema do enredo foi "Os Papagaios Amarelos nas Terras Encantadas do Maranhão", que conquistou o 7º lugar do grupo especial.
2003, ainda como carnavalesco da Grande Rio, Joãosinho Trinta conquista o 3º lugar do grupo especial, com o enredo "O Nosso Brasil que Vale".
Em 2004, Joãosinho Trinta faz seu último carnaval pela Grande Rio. Com o enredo "Vamos Vestir a Camisinha meu Amor", uma abordagem sobre a prevenção da Aids, gerou mais uma polêmica com a Igreja católica e com a própria diretoria da escola de samba Grande Rio, que não ficou satisfeita com a concepção do enredo, que segundo a diretoria Joãosinho Trinta fugiu da ideia original que era a conscientização do uso da camisinha e do perigo das doenças sexualmente transmissíveis, e voltou-se para um tema mais sexual e tentou levar para avenida carros alegóricos que reproduziam imagens do "Kama Sutra", tendo dois carros com cenas de sexo, cobertos no dia do desfile, por determinação da promotoria de infância e juventude. A escola ficou em 10º lugar e no dia da apuração o carnavalesco foi demitido do cargo.
Nesse mesmo ano a escola de Samba Acadêmicos da Rocinha, homenageou Joãosinho ao levar para avenida a vida e a obra do grande gênio, um "Tributo ao Mestre". Joãosinho é vitima de mais uma isquemia.

Afastado a quatro anos das escolas de samba do Rio de Janeiro, Joãosinho Trinta volta ao cenário em grande estilo. Esse mês, joãosinho Trinta foi passear em Goiáis, cavalcante, uma pequena cidade do interior, com apenas 10 mil habitantes. Recebido como Rei, Joãosinho ensinou e ajudou os moradores, que acostumados a folia de Reis e música caipira, organizarem um grande e animado carnaval. Improvisou um barracão, desenhou fantasias e orientou as costureiras, organizou bateria e convidou descendente de escravos para apresentar a sussa, dança tipica quilombola, e provou com a genialidade e ousadia própria de sua personalidade, que carnaval é uma festa brasileira que tem raízes mesmo quando o povo não tem consciencia disso. O ensaio foi uma festa que levou ao delírio quem nunca antes havia brincado um carnaval.

Os problemas de saúde do mestre, parece não impedi-lo de fazer audaciosos projetos, um deles é formar uma escola de samba que viajará o mundo. Pensando nisso, Joãosinho Trinta vai assistir os desfile das escolas de samba de São Paulo, na tentativa de buscar apoio de empresários e escolas de samba.


Outro grande projeto de Joãosinho trinta é um enredo que pretende falar de Brasilia, em comemoração aos 50 anos da criação da cidade. Nada melhor do que falar de Brasilia com quem mais entende do assunto, seu criador Oscar Niemeyer, que já se comprometeu com a criação de um dos carros alegóricos. Uma das ousadias do carnavalesco é levar para a avenida todos ex-presidentes do Brasil que estiverem vivos e os já falecidos seriam representados por atores.
Tudo indica que há uma grande chance da Escola de samba Beija-Flor de Nilópolis abraçar esse projeto do Carnavalesco Joãosinho Trinta. Seria uma trindade espetacular essa união entre dois gênios, e uma escola que é uma das maiores referência do Carnaval Carioca. Vamos Aguardar para assistir essa apoteose!

Entrevista da Folha de São Paulo com Joãosinho Trinta

FOLHA -O que o Joãosinho Trinta anda fazendo?

JOÃOSINHO TRINTA - Temos o projeto "Samba das Nações". Tive a idéia há um ano. É a criação de uma escola de samba de atuação internacional, que deve viajar pelo mundo com temas que envolvem todos os povos, como meio ambiente, fome, violência e conflitos étnicos. Vim tentar o apoio aqui porque iremos formar a escola com os elementos de todas as escolas de samba daqui de São Paulo. Vamos escolher de cada uma o que ela tiver de melhor, como a ala das baianas e a comissão de frente.

FOLHA - Por que as escolas de São Paulo?

JOÃOSINHO - Há possibilidade de lançarmos a escola aqui em São Paulo. A escola terá apoio, além das embaixadas, de grandes empresas brasileiras e internacionais, da ONU, da Unesco, do governo federal e de governos estaduais.

FOLHA - O que já tem de garantido nesse projeto?

JOÃOSINHO - A formatação da escola e o apoio de várias embaixadas, como da Austrália, dos Estados Unidos, da França, de Portugal, da Síria.

FOLHA - Como o senhor avalia o Carnaval de São Paulo? Está no nível do Rio?

JOÃOSINHO - Está chegando muito perto. Já se vê participação do povo, tem gente boa trabalhando.

FOLHA - O que está faltando?

JOÃOSINHO - Falta tempo para amadurecer. O Carnaval do Rio tem mais tempo.

FOLHA - O que o senhor acha do merchandising praticado pelas escolas daqui?

JOÃOSINHO - Ele é positivo. Depende da inteligência dos carnavalescos, porque qualquer assunto pode se tornar um tema de Carnaval. Eu mesmo tenho experiência própria, quando fiz o enredo para a escola carioca (Grande Rio) sobre a Vale do Rio Doce (em 2003), com o enredo "O Brasil que vale". Fiz isso sem citar e sem focar diretamente a empresa, contando sua história, que tem ligação com a do Brasil. Não desvirtua o espírito do carnaval.

FOLHA - A escola Rosas de Ouro vai lançar um novo produto no seu desfile deste ano, sobre o perfume. O senhor concorda com isso?

JOÃOSINHO - O perfume é um bom tema, é uma história bonita, mas se for muito afrontoso esse lançamento eu não concordo. Afrontoso é insistir numa marca. Mas se for feito de maneira sutil, se forem ressaltados outros ângulos, ai sim. Depende da forma. Mas esse lançamento de produto eu não gosto.

FOLHA - O senhor acha que já se torna exagero dentro da idéia de merchandising lançar um novo produto?

JOÃOSINHO - Já, dependendo da maneira. Errado é falar da marca explicitamente, distanciar essa marca do assunto principal.

FOLHA - O que o senhor acha das escolas usarem enredos com temas repetitivos?

JOÃOSINHO - Um enredo não é um tema que se repete, ele é a maneira de se fazer. Duas escolas podem ter o mesmo enredo e, no entanto, cada uma fazer um desenvolvimento totalmente diferente do outro.

FOLHA - A criatividade então não está no tema?

JOÃOSINHO - Está na confecção, na dinâmica de cada escola.

FOLHA - Como o senhor está se recuperando dos problemas de saúde?

JOÃOSINHO - Estou me recuperando muito bem. Decidi morar em Brasília por esse motivo (faz tratamento no hospital Sara Kubitschek). Vou criar oficinas de escultura, de fantasias, de evolução para as escolas de lá, trabalhando na orientação e formação de profissionais para a cadeia produtiva do Carnaval. Vou trabalhar por dois anos para mostrar resultados em 2010, no aniversário de 50 anos de Brasília.


Fonte:
Um Tributo ao Mestre do Carnaval - Uol Educação
Joãosinho Trinta Ajuda Cidade de Goiás com 10 mil habitantes a fazer carnaval
Joãosinho Trinta e Niemeyer juntos na Beija-Flor em 2010
Site da Escola de samba Beija-flor

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