O artista pop americano Jeff Koons, 53 anos, adepto do estilo kitsch, expõem suas obras no palácio de Versalhes (em francês Château de Versailles), na França. São 17 obras monumentais realizadas desde 1980 até os dias atuais, que ficaram em cartaz até o dia 14 de dezembro. Essa exposição está causando uma enorme polêmica entre os franceses, centenas se pessoas reunidas em frente ao Palácio de Versalhes, manisfestaram sua indignação por uma arte Pop está exposta em um lugar de arte erudita. O diretor do Palácio de Versalhes, Jean-Jacques Aillagon, ex-ministro da Cultura, rebate essas críticas dizendo que "Versalhes deve ser um lugar cultural vivo e não ficar imerso no formol".
Fotos da exposição no Palácio de Versalhes
Três aspiradores, dois aparelhos para lavar o chão, iluminados por luzes de neon, fazem parte de uma instalação em mostra de obras pop art do artista americano Jeff Koons, em Versalhes.
Auto-retrato de Jeff Koons. A escultura foi feita em 1991 e está exposta no Salão de Apolo, que integra o Grande Apartamento do rei Luís 14. Alguns franceses não gostaram de ver arte pop em lugar tão solene.
'Rabbit' ('Coelho'), de 1986, em aço inoxidável, é uma das criações mais famosas de Jeff Koons, considerada por especialistas como uma das obras mais emblemáticas do final do século 20.
'Split-Rocker', de 2000. A escultura é composta de 100 mil flores naturais e possui um sistema de irrigação interna. A cabeça mistura a forma de um pônei com a de um dinossauro. As flores são um tema recorrente da obra de Koons.
'Moon' ('Lua') ? 1995 a 2000, exposta na famosa Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes. A obra, em cromo inoxidável e aço, é coberta com um revestimento colorido e pesa 1,2 tonelada.
Estilo kitsch
"O termo é utilizado para designar o mau gosto artístico e produções consideradas de qualidade inferior. A noção aparece no vocabulário dos artistas e colecionadores de arte em Munique, em torno de 1860 e 1870, forjada a partir de kitschen, "atravancar", e de verkitschen, "trapacear" (vender outra coisa no lugar do objeto combinado), o que denota imediatamente o sentido pejorativo que a acompanha desde o nascimento. De modo geral, a gênese do kitsch é localizada no Romantismo, pela ênfase aí observada na expressão dos sentimentos e das emoções, o que na literatura, por exemplo, toma forma do melodrama e da literatura popular. Negação do autêntico, cópia e artificialidade são os significados freqüentemente associados aos objetos e produções kitsch, encontráveis tanto nas artes visuais, na literatura e na música, quanto no design e na profusão de produtos que cercam o cotidiano: souvenirs turísticos, miniaturas, adornos, objetos de decoração e de devoção, talismãs religiosos etc. A noção se populariza na década de 1930 com as formulações dos críticos Theodor Adorno (1903-1969), Hermann Broch (1886-1951) e Clement Greenberg (1909-1994), que definem o kitsch por oposição às pesquisas inovadoras da arte moderna e da arte de vanguarda. Pensando o kitsch a partir do conceito marxista de "falsa consciência", Adorno localiza-o no seio da indústria cultural e da produção de massas. Broch, por sua vez, opõe a arte criativa às imitações e convenções artificiais que orientam as produções kitsch. Greenberg define o "estilo" como arte da cópia, das "sensações falsas" e da obediência às regras acadêmicas. Nesse sentido, o kitsch é definido como o avesso da vanguarda. Diz ele: "Onde há uma vanguarda geralmente também encontramos uma retaguarda. É bem verdade - simultaneamente à entrada em cena da vanguarda, um outro fenômeno cultural apareceu no Ocidente industrial: aquilo a que os alemães dão o maravilhoso nome de Kitsch: a arte e a literatura popular e comercial com seus cromotipos, capas de revista, ilustrações, anúncios, subliteratura, histórias em quadrinhos, a música de Tin Pan Alley, sapateado, filmes de Hollywood etc. etc.".
Ainda que, muitas vezes, se fale no kitsch como um conceito universal - reconhecível portanto em qualquer época e estilo artístico -, a maior parte dos estudiosos localizam-no no seio da sociedade industrial, de feitio burguês, o que faz do estilo kitsch um dos produtos típicos da modernidade. A pujança do kitsch, indica Abraham Moles, coincide com a expansão do mercado e com a emergência da sociedade de massas que impõem normas à produção artística ditadas pela difusão e possibilidades de aquisição de produtos artísticos - de modo geral, reproduções e cópias - em função dos baixos preços. Os grands magazins, que abrem suas portas a partir da segunda metade do século XIX, dão vazão aos novos produtos que visam agradar às classes médias: porcelanas, bibelôs, estatuetas, cromos com reproduções de estampas e/ou figuras célebres etc. O kitsch apresenta-se desse modo como a arte que está ao alcance do homem, disponível nas vitrines e casas comerciais.
Os artifícios do mundo burguês revelam-se nos produtos kitsch, confeccionados em geral a partir de novos materiais que nunca se apresentam como são: a madeira é pintada imitando o mármore; os objetos de zinco, bronzeados; as estátuas de bronze, por sua vez, douradas. A norma consiste em utilizar matéria-prima considerada inferior - por exemplo, gesso, estuque, ferro e zinco - dissimulando-as para que pareça nobre. A técnica da simulação combina-se nas produções kitsch com a ornamentação rebuscada, com a associação de ampla gama de cores e com a distorção das dimensões da figura em relação ao objeto representado (por exemplo, o Arco do Triunfo em miniatura ou um rato gigante estilizado em bronze). Nota-se ainda a tendência ao exagero e à acumulação de elementos numa só composição. Nesse sentido, a arte kistch é essencialmente sincrética, alimentando-se de elementos retirados de diferentes escolas e artistas. Localiza-se, assim, nas antípodas da funcionalidade e do despojamento que caracterizam, por exemplo, as obras da Bauhaus. Longe da funcionalidade, as produções kitsch caracterizam-se pela gratuidade e por seu caráter eminentemente decorativo.
A despeito das considerações críticas sobre a existência de uma oposição entre o kitsch e as vanguardas, nota-se uma estreita relação entre os termos: tanto as produções kitsch incorporam procedimentos das vanguardas quanto, ao contrário, diferentes movimentos de vanguarda se interessam pelo kitsch em função do modo como ele subverte os padrões estéticos, de modo muitas vezes irônico. Um bom exemplo disso são os bigodes colocados por Marcel Duchamp (1887-1968) numa reprodução da Gioconda de Leonardo da Vinci (1452-1519), que fazem dela um ready-made retificado, o L.H.O.O.Q. (1919). O ato e a obra de Duchamp empreendem uma leitura da tradição a partir do caráter falsificado e postiço que ela assumiria no mundo moderno. Mais tarde, no período posterior à 2ª Guerra Mundial (1939-1945), a arte pop retira o sentidos pejorativos que cercam o kitsch. A arte pop se apresenta como um dos movimentos que recusa a separação arte/vida, e o faz - eis um de seus traços característicos - pela incorporação das histórias em quadrinhos, da publicidade, das imagens televisivas e do cinema. Ao aproximar arte e design comercial, os artistas superam, propositadamente, as fronteiras entre arte erudita e arte popular, ou entre arte elevada e cultura de massas, flertando sistematicamente com o kitsch. Lembremos, entre outros, a colagem de Richard Hamilton (1922), O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? (1956), as naturezas-mortas de Tom Wesselmann (1931), compostas com produtos comerciais, os quadrinhos de Roy Lichtenstein (1923), as esculturas de Claes Oldenburg (1929) - Duplo Hamburguer
(1962) - e as diversas obras de Andy Warhol (1928-1987): 32 Latas de Sopas Campbell
(1961-1962), Caixa de Sabão Brilho (1964) etc. No Brasil as obras de Nelson Leirner
(1932) e Wesley Duke Lee (1931) são pioneiras na incorporação dessas discussões. O pós-modernismo da década de 1980 rompe mais uma vez, e com resultados diversos, as fronteiras entre o kitsch e a chamada arte erudita."
Kitsch - Itaú Cultural
Um comentário:
Tudo que eu precisava ler sobre Kitsch. Adorei.
Postar um comentário